Revista VEJA
O Red Hot Chili Peppers é um grupo atípico. Surgiu no início dos anos 80 fazendo uma mistura de rock e funk, quando a moda era tocar rock farofa e usar maquiagem pesada. O método de composição deles também é diferente: as melodias nascem do baixo, e não das guitarras (isso seria um suicídio artístico para uma banda de rock, não fosse o fato do baixista Flea ser um virtuose).
Com raras exceções, os guitarristas desempenham uma função decorativa, preenchendo o espaço criado por Flea e o baterista Chad Smith - outro monstro em seu instrumento - e pelos vocais de influência rap de Anthony Kiedis. I'm With You, novo disco do Red Hot Chili Peppers, marca a estreia do guitarrista Josh Klinghoffer no lugar de John Frusciante - que nos últimos anos parecia ter perdido o pique.
Curiosamente é um trabalho menos funk do quarteto, com o rock predominando em boa parte do álbum. Mesmo assim, o baixo de Flea mostra sua potente marcação funk em Monarchy of Roses. Também estão presentes as inevitáveis baladas, como Brendan's Death Song. E a surpresa é Did I Let You Know que lembra ritmos do norte do Brasil.
Jornal Extra/ Globo
RIO - O guitarrista maluco-beleza John Frusciante deixou a banda (de novo?); o baixista Michael “Flea” Balzary foi estudar trompete de jazz e composição; e o cantor Anthony Kiedis deixou crescer um bigodão ridículo, tudo isso enquanto o baterista Chad Smith se divertia tocando hard rock no supergrupo Chickenfoot: as perspectivas, portanto, não eram das melhores para “I’m with you”, primeiro disco dos Red Hot Chili Peppers desde o mediano “Stadium arcadium”, de 2006, liberado para streaming no site da banda na última segunda-feira. Partindo daí, o resultado é satisfatório, mostrando a banda em boa forma, animada e certamente justificando os seis meses no estúdio, coordenados pelo produtor Rick Rubin. Mas o velho elemento da anarquia, da fúria que dava uma graça especial à banda hoje é raramente visto.
O disco começa bem, com a barulhenta “Monarchy of roses” — a guitarra, agora nas mãos de Josh Klinghoffer, bem na cara, o que sempre foi raro nos RHCP, qualquer que fosse o guitarrista — que disfarça, no início, a voz de Kiedis sob efeitos, antes de cair numa levada típica, a cozinha de Flea e Smith azeitada como sempre. Depois de mais uma no estilo tira-o-pé-do-chão, “Factory of faith”, a banda cai em uma balada — tendência de seus últimos discos, incluindo este —, “Brendan’s death song”, bonitinha, mas um pouco açucarada, e com muitas texturas sonoras, o que dá um certo ar de overprodução, além de certamente ser difícil para se reproduzir ao vivo (a banda, aliás, deve excursionar com músicos de apoio, um deles o percussionista brasileiro Mauro Refosco, parceiro de Flea no grupo Atoms For Peace). É claro que os Chili Peppers sabem fazer uma boa canção pop, mas quando ela pende demais para o lado acessível, leva a banda a correr o risco de soar genérica. “Brendan’s death song”, por exemplo, poderia tranquilamente ser do Maroon 5 — o que não é um demérito, mas é uma pena quando a marca d’água sonora parece um pouco borrada.
Na variação entre os funkões que sempre caracterizaram a banda (“Give it away”, “Knock me down”) e as baladas que a ajudaram a vender dezenas de milhões de discos (“Californication”, “Under the bridge”), o segundo grupo parece estar na frente nas preferências dos quase cinquentões californianos — principalmente Flea e Kiedis, fundadores da banda em 1983 e principais compositores. “Ethiopia”, por exemplo, fruto de uma viagem de Flea e Klinghoffer pelo país de Hailé Selassié, soa mais californiana do que africana. Ainda assim, músicas como “The adventures of Rain Dance Maggie”, primeiro single do disco, e “Dance dance dance” fazem valer a visita até de quem tem saudade de tempos mais velozes e furiosos.
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